De três alternativas, resta a tentativa de vincular doações
campanha a Lava jato
04/12/2014 por Tereza Cruvinel
A renitência da guerra regimental
travada ao longo da noite entre governo e oposição para aprovar o projeto do
superavit tem poucos precedentes na história parlamentar recente. Para a
oposição, o que estava em jogo não era a questão fiscal mas o fim do segundo
caminho para o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Se o projeto
fosse rejeitado, poderia denunciá-la por responsabilidade, por ter ferido a Lei
de Diretrizes Orçamentária com o estouro da meta de superávit. Resta agora a
tentativa em curso, de vincular as contas de campanha à corrupção na Petrobrás.
Guerra de curto prazo: para ser diplomada juntamente com Temer no dia 17, Dilma
precisa das contas aprovadas.
Três foram os caminhos prospectados pela oposição
com o objetivo de barrar o segundo governo Dilma. Ainda na véspera da eleição,
o golpe da revista Veja com a capa ‘Eles sabiam de tudo”. A via
midiática não produziu resultados eleitorais nem os desdobramentos
institucionais. Mas serviu para colocar a palavra “impeachment” em circulação,
a partir de duas pequenas manifestações em São Paulo, que deram carona aos
defensores de um golpe militar. Na última, o cantor Lobão tentou expulsá-los
mas já eram farinha do mesmo saco golpista.
Na questão fiscal, já na campanha o candidato
Aécio Neves falava no estouro da meta do superávit como um crime. E ontem, ao
longo da votação, alguns líderes da oposição não esconderam a estratégia.
Repisaram nos discursos a afirmação de que aprovar o projeto
flexibilizador da meta seria conceder “anistia à presidente da República por um
crime que ela já cometeu”. E alguns o detalharam: crime de responsabilidade por
descumprir a lei, que enseja pedido de abertura de processo de impeachment. O
governo ganhou a duras penas, aprovando o mérito do projeto numa sessão
martirizante. Restam os destaques mas a batalha foi vencida graças a uma
surpreendente coalizão da base governista, – que mereceu agradecimento do líder
do Governo na Câmara, Henrique Fontana -, ao empenho dos líderes e a uma
condução irrepreensível do presidente do Senado, Renan Calheiros, que soube combinar
firmeza no uso do regimento e paciência para aturar as manobras caprichosas da
oposição. A maioria funcionou.
Resta agora ao neo-lacerdismo o terceiro caminho,
a tentativa de vincular a prestação de contas de campanha de Dilma às
empreiteiras investigadas pela operação Lava Jato. Em seu artigo de hoje no 247
Paulo Moreira Leite aponta a omissão – por todo o noticiário excitado dos
jornais – da parte essencial da delação premiada do executivo Mendonça Neto: a
de que fez doações legais ao PT mas não revelou ao tesoureiro do partido, João
Vaccari, que o fazia por orientação do diretor corrupto Renato Duque. Mas antes
mesmo do vazamento do conteúdo da delação, conforme registrei ontem, o ministro
Gilmar Mendes, que analisa a prestação de contas de Dilma, já tomava
providências sintonizadas com este caminho. Repito que este processo está se
atrasando. Para haver diplomação no dia 18, a prestação de contas deverá ter
sido aprovada pelo TSE, a partir do relatório Gilmar.
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