quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

IBM e o holocausto - Edwin Black

O papel da IBM nos planos de Hitler era catalogar e identificar os judeus e os grupos indesejáveis que viviam na Alemanha. Ansiosa pelo lucro, a IBM deixou-se dominar por um mantra corporativo amoral: se pode ser feito, deve ser feito.
 
A IBM, com sua tecnologia de cartões perfurados, organizava e classificava a informação de acordo com as pesquisas encomendadas pelo mais alto escalão do Reich. As informações eram utilizadas para os mais variados propósitos: distribuição de alimentos de modo a matar de fome os judeus; identificar, rastrear e gerenciar a mão-de-obra escrava; controlar a circulação de trens para a catalogação de carga humana, etc. As máquinas que confeccionavam os cartões não eram vendidas, mas alugadas, sujeitas à manutenção e atualização constante da IBM.

O autor é filho de sobreviventes poloneses do holocausto. Sua motivação pela pesquisa veio com a curiosidade sobre uma máquina IBM Hollerith D-11 em exposição no Museu do Holocausto em Washington, EUA. “A não ser que compreendamos como os nazistas adquiriram os nomes dos judeus, novas listas serão compostas, com outras pessoas”. “Apenas mediante a exposição e análise do que realmente ocorreu, o mundo da tecnologia finalmente terá condições de professar o mote bem conhecido: nunca mais”.
 
Pessoas numeradas
 
Em cada campo de concentração, os prisioneiros eram identificados por meio de cartões Hollerith descritivos, cada um com colunas perfuradas, detalhando nacionalidade, data de nascimento, estado civil, quantidade de filhos, motivo do encarceramento, características físicas e habilidades profissionais. As colunas 3 e 4 reuniam categorias de prisioneiros, dependendo dos orifícios: orifício 3 significava homossexual; 9 anti-social; 12, cigano; 8, judeu. Listas impressas com base nos cartões relacionavam os prisioneiros por códigos numéricos pessoais. Coluna 34: “razão de partida” – morte natural (código 3), execução(código 4), suicídio (código 5), “tratamento especial” (extermínio em câmara de gás, enforcamento ou fuzilamento) (código 6)
 
Para descobrir o perfil ocupacional de um grupo, a classificadora mecânica era abastecida com o cartão de cada interno. Em seguida, ajustava-se o controle para a identificação das profissões, habilidades, faixa etária o conhecimento de idiomas necessários. Os nomes apareciam em listagens impressas pela Hollerith para transporte aos subcampos, fábricas e até fazendas locais.

A interseção IBM-Hitler
 
Como nasceu a IBM. O fundador da Tabulating Machine Company (como se chamava a IBM) foi Herman Hollerith, alemão criado pela mãe em Buffalo, Nova Iorque. Aos 19anos, depois de formado em engenharia pela Columbia School of Mines, Hollerith foi convidado para trabalhar como assistente no U.S. Census Bureau. Foi com a brincadeira de um chefe que Hollerith teve a ideai de criar um cartão perfurado onde cada orifício do cartão representasse uma característica da pessoa: sexo, nacionalidade, ocupação, etc. O sistema de leitura de cartões inventado por Hollerith tinha condições de fornecer respostas sobre o censo dos EUA a 235 perguntas; de repente, o governo tinha condições de traçar o perfil de sua própria população. Este invento economizou US$ 5 milhões nos gastos do governo com o censo.
 
Hollerith decidiu alugar ao invés de vender as máquinas. Órgãos governamentais da Rússia, Itália, Inglaterra, França, Áustria e Alemanha eram seus clientes. Ele tinha nas mãos todas estas nações. “Os governos eram apenas clientes, clientes a serem controlados”.
 
Depois de um enorme contrato com a Rússia, em fins de 1896, Hollerith constituiu sua empresa, instalando sua sede em Georgetown, Washington, D.C., com o nome de Tabulating Machine Company.


Depois de fraudar várias vezes o governo americano e o seu maior cliente (a Census Bureau) e de perder mercado para o concorrente, Hollerith decidiu se aposentar e vender sua empresa para Charles Flint, comerciante de commodities internacionais (armas, inclusive). Flint comprou a Tabulating Machine Company para integrá-la em seus negócios. Suas companhias levaram o nome de CTR – Computing-Tabulating-Recording. James Watson, destacado vendedor da NCR (empresa vendedora de caixas-registradoras) foi contratado por Flint para ser gerente geral de vendas da CTR.
 
Depois da morte de um dos mais importantes diretores da CTR, Fairchild, e do afastamento de Hollerith do conselho de administração da CTR (Hollerith ainda prestava consultoria à CTR), James Watson tornou-se o principal executivo e autoridade da CTR. Decidiu rebatizar a empresa com o nome IBM – International Business Machines – um nome que, segundo ele, era o epítome do significado de seu empreendimento. A promessa de Watson a todos foi: “A IBM é mais do que uma empresa – é uma grande instituição mundial que durará para sempre.” Espírito IBM era o termo de Watson para a quase tribal devoção à empresa que ele exigia.
 
Em 1922, Watson comprou 90% das ações da Dehomag, uma licenciada de máquinas e equipamentos Hollerith na Alemanha, fundada por Willy Heidegger. Heidegger vendeu sua empresa à IBM dos EUA quando a Alemanha entrava no caos e a Dehomaga fundava-se em dívidas. (na verdade Watson “forçou” a venda usando meios escusos)
 
Várias subsidiárias foram instaladas em outros países levando o nome Watson: Watson Belge (Bélgica), Watson Italiana (Itália), Svenska Watson (Suécia), etc. As denominações Watson e IBM eram inseparáveis.
 
Em 1933 a Dehomag detia mais da metade da receita da IBM em todo o mundo, já com mais de 70 subsidiárias em outros países.
 
A interseção IBM-Hitler. Em janeiro de 1933, Hitler ascende ao poder. Em março daquele ano, o primeiro campo de concentração foi construído em Dachau, seguido de muitos outros. Em abril de 1933, 60.000 judeus foram aprisionados e outros 10.000 fugiram para outros países.



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