César Fonseca
A presidente Dilma Rousseff virou o jogo a seu favor. Conseguiu, na quarta feira, na Câmara dos Deputados, unir o governo e dividir as centrais sindicais e a oposição em relação ao salário mínimo. Nem R$ 600, como queriam os oposicionistas, nem R$ 560, como desejavam os sindicalistas, mas R$ 545, como pregaram os governistas.
O Palácio do Planalto trabalhou ancorado no argumento de que mais do que esse patamar haveria pressões sobre as contas públicas, rompendo o que se articula como equilíbrio fiscal, a partir da necessidade de formar um superavit primário (receitas menos despesas, excluindo pagamento de juros) de 3,1% do PIB para servir aos banqueiros, que levarão, em 2011, cerca de R$ 900 bilhões, enquanto os assalariados, pensionistas e previdenciários, perceberão, apenas, R$ 166 bilhões, no total de um orçamento da União de R$ 1,6 trilhão.
Configurou-se, mais uma vez, que a prioridade fundamental da política econômica é o pagamento dos serviços da dívida pública interna, para além do discurso desenvolvimentista, prisioneiro do excesso de endividamento governamental.

A oposição, que tentou faturar a divisão inicial governista, na esperança de atrair para si as forças sindicalistas, não sustentou suas próprias posições, visto que se dividiu, irremediavelmente. De um lado, o PSDB e o DEM tentaram fechar com a proposta de campanha eleitoral do candidato derrotado José Serra, favorável a um mínimo de R$ 600, mas, logo em seguida, dividiu-se.
O senador Aécio Neves, ex-governador tucano de Minas Gerais, que tenta ganhar espaço para ser líder da oposição e pontificar-se como candidato à sucessão em 2014, buscou consenso num meio termo, R$ 560, na esperança de alcançar uma força significativa entre os deputados. Fracassou.
O governo se mostrou unido entre PMDB e PT. Os peemedebistas foram 100% governistas, enquanto ocorreu leve defecção entre os petistas, com 10 parlamentares que ficaram ausentes, enquanto dois votaram com a posição de Aécio Neves. O mais significativo foi o racha dentro das hostes sindicalistas. O deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), presidente da Central Força Sindical, que se apresentava como possível novo líder da classe sindical, defendendo um mínimo de
R$ 580, chegou a empolgar, conseguindo levar ao Congresso fortes aliados que lotaram as galerias da Câmara.
Porém, não atraiu para suas posições a mais forte das centrais, a CUT, Central Única dos Trabalhadores, ligada, historicamente, ao PT. Na hora H, a liderança do governo convocou o ex-presidente da CUT, deputado Vicentinho(PT-SP), para relatar o projeto de lei. Foi vaiado pelos sindicalistas, ao apresentar sua defesa da posição governista, mas conseguiu o que o Palácio do Planalto desejava, ou seja, rachar o sindicalismo.
Os sindicalistas, que, no Governo Lula, constituiram-se numa força poderosa e coesa sob orientação do ex-presidente operário metalúrgico, demonstraram não dispor, no Governo Dilma, da mesma potência, já que a correlação das forças políticas, no Legislativo, correspondente aos sindicatos pesaram mais a favor do PT, ligado à CUT, do que ao PDT, expresso na Força Sindical, ancorada, dentro do Governo, na representação do Ministério do Trabalho.
O ministro trabalhista, Carlos Lupi, sob pressão da presidente, deixou o deputado Paulo Pereira da Silva de lado e engajou-se nas forças dilmistas, fortalecidas pela posição da CUT-PT, amplamente, avalizada pelo PMDB. Se não tivesse seguido esse caminho, poderia ter dançado, perdendo o cargo.
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